Faz hoje um ano que perdemos a nossa titi.
Faz amanhã um ano que voltámos a fazer o funeral da minha mãe.
Foram dias muito duros, aqueles.
E ainda hoje, passado um ano, pego no telefone para ligar à minha tia.
Ontem fez um mês que faleceu a minha titi.
E nós achámos que nos devíamos juntar, eu e o meu primo, até porque a minha mãe também fez anos.
Correu tudo muito bem, e depois do jantar, acabámos por nos juntar os dois na cozinha e carpir um bocadinho as nossas mágoas, falar do que tínhamos sentido naqueles dias, de todo o processo de doença da titi, da cerimónia do funeral, de tudo por que fomos passando.
O meu primo disse-me que quando a minha mãe morreu, ele perdeu o (...)
A noite de ontem, no velório não foi fácil.
Mas nada me tinha preprado para a manhã de hoje.
Não consegui dormir, mas bem cedo, fui para a capela, para acompanhar a minha tia até à sua ultima morada.
A minha tia manifestou desde sempre o desejo de ficar na campa da minha mãe e assim foi.
O que eu não esperava era assistir de novo, dezoito anos depois, ao funeral da minha mãe, cujas ossadas foram retiradas da campa e colocadas aos pés da minha tia.
Foi um sofrimento enorme (...)
Eu queria escrever que gosto de Fevereiro porque é um mês muito pequeno.
Gosto de Fevereiro porque a minha mãe fazia anos a 29 e quase sempre a 28, dada a particularidade da data.
Gosto de Fevereiro porque acima de tudo é o mês dela.
Gosto de Fevereiro porque a minha irmã mais velha casou também a 29.
Gosto de Fevereiro porque a minha tia favorita faz anos a 6.
Gosto de Fevereiro porque comecei a namorar o amor da minha vida a 19 e sete anos depois, nesse mesmo dia, cumprimos (...)
Fui ver a minha tia.
Olhos fechados, respiração muito profunda.
Chamo por ela, dou-lhe festas na cara, volto a chamar.
Nada.
Mexo-lhe na mão e ela agarra a minha com tanta força, que chegou a ficar um bocadinho negra.
Acredito que queria comunicar comigo e foi essa a única forma.
Ficamos ali de mão dada um bom bocado.
E sai de lá mais triste que nunca.
A minha velhota caiu e partiu um braço.
O esquerdo, e em vários locais.
E seria bom ser o esquerdo se não fosse esquerdina.
Coitadinha.
Já não se sabe o que dizer,para a consolar. 85 anos e tantas mazelas...
Ninguém merece.
Cheguei do Porto, morta de sono, morta de cansaço, cheia de coisas para fazer e fui lá.
Para dar-lhe beijinhos dos meus.
E ouvi-la dizer "isso é bom".
A minha tia tem 84 anos.
Mas a cabeça dela não acompanhou o corpo.
È tão triste estar consciente de que a parte física se degradou, querer fazer coisas e não conseguir.
Sentir que se está velha, que os anos não perdoaram, mas ter total sentido disso.
Que angustia, meu Deus.
Vê-la assim faz-me pensar se não será melhor ficar balhelhas.
Eu acho que se sofre menos.