Favor ou folga?
Nas minhas duas ultimas idas ao supermercado aqui perto de casa, quando regressava com os sacos das compras, dois senhores ofereceram-se para me ajudar. Nas duas vezes.
Recusei a oferta amavelmente. Só o facto de se terem oferecido bastou. E não vinha assim tão carregada. Foi apenas delicadeza de ambos os cavalheiros.
Fiquei a pensar que em Portugal nunca tal me aconteceu. E não foram poucas as vezes que decidi ir a pé a um supermercado longe, para comprar umas bolachas, por exemplo e acabar por carregar dois sacos gigantes, um em cada ombro, durante uma distancia bastante considerável. Nunca ninguém se ofereceu para me ajudar. E agora que penso nisso, a minha reacção seria de medo e desconfiança. Não aceitaria, por certo, que um desconhecido me ajudasse com os sacos das compras, até casa. Fomos educadas para ter medo, para desconfiar de estranhos. E por isso, como julgar quem não ajuda? Aqui a cultura é distinta, a taxa de criminalidade é ridícula. Não me acontece nada se aceitar ajuda. Talvez fique com menos dores nas costas, como principal consequência. As dezenas de cameras espalhadas pelas ruas dão-nos uma almofada de conforto, muito mais do que uma devassa da privacidade.
Na próxima vez vou aceitar que me carreguem os sacos. Até porque uma pessoa já não vai para nova.