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Contos sem nó

As minhas histórias

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17.06.18

A mota


Lila

Há muito tempo que não a conduzia mas este fim de semana desforrei-me. Hoje, quando vinha da praia, sozinha, vinha a pensar que a minha relação com ela é meio esquizofrénica. Tanto há dias em que me sinto uma pena, ali a levar com o vento na cara, e deslizo nela, com alegria, feliz por poder deslocar-me numa coisinha tão fixe, como depois há outros em que tenho medo, travo muito nas curvas, nas rectas, em todas as circunstancias. Em que vou devagar, muito devagar. E vejo filas de carros atrás de mim, engonhados pela minha presença e penso que não fui feita para aquilo. Acelero e imagino-me a cair, a resvalar e a ficar com a pele das penas toda queimada do alcatrão, cheia de feridas, partida dos pés a cabeça. E depois volto a sentir-me bem, a gostar da sensação, principalmente a caminho da praia, com o vento quente a bater nas pernas e na cara. Para depois voltar a imaginar a queda, a ter medo de um vento que me abana um bocado, a ter medo de um pequeno deslize que a senti ter por haver uma diferença de pavimento na estrada.

Isto de cada vez que a conduzo.