Quem mexeu no meu queijo?
A minha empregada é um caso de psiquiatria grave.
Está connosco há 9 anos.
Super séria, mas demasiado á vontade na nossa casa.
Entra á hora que quer, sai á hora que quer, altera os dias da limpeza acordados e (vá lá avisa-me!) manda-me uma mensagem a informar, sobre a alteração, não a pedir se pode alterar.
No Natal, tive férias e como ela muda os dias da limpeza com a periodicidade com que eu mudo de cuecas (e eu sou uma gaja bem limpinha e e lavadinha, acreditem...), mandei-lhe uma mensagem a dizer que viesse de tarde e não de manhã, que eu não a podia ter cá cedo.
Isto com o propósito de poder dormir até mais tarde, sem levar com a mulher cá em casa.
A senhora ignorou e enviou-me uma mensagem a dizer que vinha de manhã.
E eu voltei a dizer-lhe que não vinha, que vinha de tarde.
No dia da limpeza, ás 9h da manhã, a peça estava á porta, a tentar entrar.
Mas a minha chave estava por dentro e por isso vai de tocar á campainha.
Depois de mil vezes, abri-lhe a porta e dei-lhe dois berros.
Que não tinha recebido as mensagens, que voltava mais tarde.
Desde esse dia, que eu ando atravessada.
E apetecia-me mandá-la embora, apesar de saber que ela precisa de trabalhar e que tem uma filha para sustentar.
Esta semana detectei mais um caso digno de nota.
A senhora come cá em casa, apesar de não estar o dia todo, apenas duas manhãs por semana.
Ainda assim, come uma sandes, sopa, iogurte, enfim, coisas rápidas para ir para outra casa.
E isso não me faz impressão, ou não faria se, para o fazer, as embalagens das melhores bolachas, dos melhores doces, dos melhores sumos, dos melhores queijos, não fossem abertas e devoradas.
Eu já tinha dado por isso e nunca disse nada, nunca foi nada gritante, se bem que me danava que abrisse as embalagens de coisas novas, quando existem outras equivalentes abertas, provavelmente demasiado reles para o seu gosto requintado.
Esta semana, quando cheguei de férias tive que correr para o supermercado, não tinha nada comestível em casa.
E , entre outras coisas, comprei um queijo de Azeitão, queijo fatiado, e um queijo flamengo.
Éstes últimos já estavam abertos quando a empregada esteve cá em casa.
Mas, adivinhem que queijo comeu, seguramente metade, ainda apor cima cortou-o ao meio, quando é um queijo amanteigado que se come com uma colher...?
Esse mesmo, o de Azeitão. Que é um queijo caro, que eu compro uma vez quando o rei faz anos, e que sei que ela não compra na casa dela. Porque não pode, seguramente.
Aqui fica o dilema: ficar aborrecida por ver o queijo que comprei para a minha família ser comido pela minha empregada, e sentir -me culpada por ficar aborrecida quando a mulher não o pode comer na sua casa.
È uma questão de principio, certo?
Eu não faria isso na casa da minha irmã, nem da minha sogra, nem da minha melhor amiga.
E sei que podia faze-lo, mas não faço, por princípio, por educação.
È isso que me dana.