Das pessoas fantásticas
Hoje tive outro dia horroroso.
Há fases muito más nas nossas vidas, agarro-me ao facto de serem apenas coisas de trabalho e não pessoais, mas de qualquer forma, o meu feitio dá-me para sofrer muito com o que se vai passando á minha volta, o peso destes problemas arrasa comigo.
Ao final da tarde, no escritório de Madrid, deu-me uma coisinha má e estava ao telefone, a falar em português, absolutamente irritada.
A empregada da limpeza, Carmen, como a minha mãe, a minha avó e a minha irmã, dizia baixinho a uma das nossas delegadas:
" Mira, que enfadada está hoy. No entendo nada, pero sea que lengua sea, se nota que está enfadadissima, la pobre."
A minha colega respondia, que sim com a cabeça.
E quando desliguei o telefone, escritório já vazio, pegou-me por um braço e disse-me:
" Venga, vamos de copas, lo necesitamos."
E fomos.
Ao segundo copo de vinho branco, já eu arrastava as palavras.
Rimos que nem umas perdidas, falámos de tudo, mandámos o trabalho á merda.
E eu tive que pedir umas tapas, que sem elas, possivelmente que já nem me levantava da cadeira.
E o bem que me fez, desanuviar um bocado, pensar em nada e em coisa nenhuma, rir de tudo e falar de nada, ao mesmo tempo que falámos de absolutamente tudo. De homens, de mulheres, de clientes bons e maus, dos filhos que ela não tem e que quer ter, de família, de amigos que perdemos, de que as empresas não têm alma.
E a nossa ficou limpa, imaculada.
Amanhã é outro dia.
Chove muito aqui em Madrid, mas estou segura que amanhã o Sol vai nascer outra vez e tudo me vai parecer mais fácil.
(ou então não, e isto é o vinho a falar...)