Sempre fomos muito próximas, mesmo depois de eu ter emigrado. Até que tudo mudou. E hoje continuo a ter a mais velha como a pessoa a quem posso contar tudo e com quem falo todos os dias. A mais nova ficou pelo caminho e mudou de família. Não a vejo há quase um ano e é melhor assim. E depois há a minha melhor amiga, irmã do coração. A que me adivinha, mesmo à distância. Não dei um irmão ao meu filho e ainda não me arrependi como tantos vaticinaram. Ele têm irmãos que não são meus filhos e está tudo bem. O sangue aqui é o que menos importa.
Quando éramos pequenas fazíamos um piquenique no quintal neste dia. A minha mãe tinha medo de nos deixar ir sozinhas para o campo apanhar a espiga, então esta era a alternativa possível. E nós adorávamos. Saudades de ser pequenina. Saudades da minha mãe.
Este ano tem sido riquíssimo em viagens e somos abençoados por nos podermos dar a esse luxo. De Domingo a quarta tenho um congresso em Milão e como hoje é feriado, decidimos fazer ponte e ir já hoje para passear estes dias em Itália. Conhecemos bem Milão mas nunca é demais uns dias fora da rotina. São cinco horas de comboio. Estou cansada e triste. Esta semana foi dura no trabalho, tive a apresentação de um projeto a direção nos Estados Unidos e desta vez foi aprovado. Passei o dia todo com diarreia, tal eram os nervos, mas consegui. E fui muito elogiada pela forma como o apresentei e por não ter desistido nem atirado a toalha quando foi recusado em Março. Trabalhei mais, preparei-me mais e consegui. Ontem voltei a fazer outra apresentação numa business review. E foi um sucesso. E quando cheguei a casa tive que fazer a limpeza da semana, tratar de roupas e fazer as malas para viajarmos hoje. Fui tomar banho e lavar o cabelo às 10 e meia da noite. O meu marido adora viajar, e está sempre pronto para ir comigo mas fazer alguma coisa em casa ou a sua própria mala não é com ele. Foi para uma corrida às 6 da tarde e chegou depois das 10.h. Sempre que limpo a casa tem sempre coisas para fazer na rua. Em Portugal era típico ter que ir à mãe ou a uma loja de bricolage sempre que começava a limpeza. Por isso rapidamente arranjei empregada. . Aqui não tem a mãe e as lojas fecham à noite, então já nem arranja desculpa. Fica só a fingir que está a trabalhar em alguma coisa. E eu não tenho empregada. Depois ainda me admiro de me sentir exausta. A casa é pequena mas ainda demoro umas três horas a fazer tudo ( mudar cama, limpar pó, aspirar, lavar o chão, lavar cozinha e casas de banho, tratar da roupa). Esta forma de viver a dois do meu marido é um tipo de comportamento antigo que não consigo de todo mudar nele. São 25 anos a tentar. É muito boa pessoa e tem muitas coisas boas que eu adoro ( e é sem dúvida a minha pessoa) mas esta inércia para tudo o que se relacione com a casa está-lhe nos genes. A minha sogra é igual. A casa dela nunca está limpa ou organizada. Acumula tralha. E eu sou o oposto. Não foi educado para fazer tarefas em casa e acostumou-se a ter quem lhe faça tudo. A única coisa que tem gosto em fazer é cozinhar. Ontem passei-me quando chegou e acabei aos gritos. A menopausa não ajuda mas na realidade acho que estou carregada de razão. Eu não estou em casa, ele trabalha remotamente, não há justificação para as coisas ficarem à espera que eu chegue para serem feitas. Por isso estou a caminho de um fim de semana prolongado mas não no meu melhor humor. Pode ser que entretanto me passe. As pizzas e pastas maravilhosas de Itália devem conseguir ajudar. E uma lavagem ao cérebro deste marido também. Acho mesmo que teria que nascer outra vez para mudar esta atitude.
Só ligo e atendo o meu pai, o meu filho, o meu marido e a minha irmã. Cada vez com menos paciência para chamadas telefónicas. Cortei mesmo alguns fretes que fazia e foi um alívio.
Porque hoje vai ser um dia de nervos em que vou ser posta a prova. E nesses dias visto-me de Bio Rad. Digo muitas vezes que o meu sangue é verde, tal é a ligação com esta empresa. Não sendo verdade, visto-me com as suas cores para me inspirar. Estou morta para que o dia passe.