Tempos difíceis. Sem esperança, sem ver a luz ao fundo túnel. Com a vida virada do avesso. Acredito que é importante alertar a população para a necessidade de cumprir as restrições . Mas massacrar as pessoas com números, com imagens dos hospitais repetidas o dia todo e discursos catastróficos não ajudam absolutamente nada. Não há um único discurso de esperança no meio disto tudo. E existem pessoas capazes de digerir e fazer uma gestão selectiva da informação. Outras, muitas outras, não. Ninguém vive sem esperança. E a nossa vida agora é uma total e completa tragédia sem fim à vista. Alimentada fundamentalmente pelos meios de comunicação. E pela falta prolongada de um abraço sentido.
Eu sinto muito isto. Principalmente trabalhando com o virus. Às vezes não vejo mesmo televisão nenhuma e nem sei nada sobre os números. É importante para manter a sanidade mental.
O único momento meu, ao final da tarde. Agora as aulas são por zoom, não se comparam as do ashrama pelo ambiente e pela energia que o ashrama tem, mas é o melhor que podemos fazer. Eu aproveito imenso aquela hora e meia, para estabilizar, para voltar a mim. Ainda que na maioria das vezes ainda tenha que trabalhar a seguir...Obviamente, para além do ambiente da sala de prática, falta-me o convívio com as colegas e amigas que fui fazendo lá. São pessoas especiais. Obrigada Vera, a minha professora incrível, que nos vai mantendo activos e com os chakras alinhados!
Agora começo os meus dias não com um expresso , mas com este café detox. Para dar uma ajudinha na limpeza do organismo pós festas, confinamento, etc. Continuo a fazer 16 a 18 horas de jejum todos os dias, mas infelizmente tem-me faltado vontade para fazer o de 24 h de vez em quando. Tenho trabalhado tanto, de manhã ate depois de jantar (esta semana tive uma reunião as 10h da noite...) que a motivação não tem sido muita...E a tentação de comer doces, estando em casa, naquelas pequenas pausas entre reuniões tem sido uma constante. Pelo menos durante a manhã, este café ajuda-me a acordar e a limpar um bocadinho essas asneiras.
Esta noite, interrompi o livro de contos de Záfon para ler um livro recomendado no grupo de leitura de que faço parte no FB, o "Cartas a D. " de André Gorz. Sou uma romantica incurável, fico encantada com historias de amor. "Esta carta é um desnudamento de um eu, de um nós, feito à crua luz da memória." De todo o livro marcou-me a nota final, "nenhum de nós esta preparado para sobreviver ao outro." E assim foi.
O meu filho já está outra vez em casa. Mochila, estojo e lancheira lavados. Preparados para mais um longo período em casa, a preparar uma agenda de estudo, para ver se não se desperdiça muito tempo.
Terminei ontem o livro "Mulheres da minha alma" de Isabel Allende. O livro não é a novela apaixonante a que já nos habituou, mas sim um relato pessoal e emotivo do seu percurso no feminismo. Ao longo do seu testemunho, numa vida dedicada às causas da mulher, recorda Paula, a sua filha precocemente falecida (saudades do livro Paula, o unico que me fez chorar compulsivamente. Ás vezes temos que voltar a esses lugares dolorosos, chorar e lavar a alma...), Panchita, sua mãe, e tantas outras mulheres importantes que marcaram a sua historia, de uma ou de outra forma. Fiquei com uma sensação de testemunho derradeiro, dada a idade e a longa lista de livros de sucesso que fazem parte do seu percurso, mas suspirei de alivio quando a vi, nas redes sociais, a iniciar um novo livro a 8 de Janeiro, a data em que iniciou todos os anteriores.Para não perder balanço, comecei já a lêr um autor desconhecido para mim, Carlos Ruiz Záfron, espanhol, autor de uma tetralogia bastante elogiada (e eu que sou fã número um da tetralogia da Elena Ferrante...). Para não me atirar de cabeça em quatro livros sem conhecer o seu estilo de escrita, comprei a compilação de contos (o meu estilo literário favorito). "A cidade de vapor" foi o seu ultimo livro. Faleceu em Junho do ano passado, com 56 anos. A avaliar pelas primeiras paginas do primeiro conto, acho que me vou apaixonar...
Não estou muito satisfeita com o facto de já estar a fazer 46 anos sem ter aproveitado nada os 45. Mas parece que tem que ser. Apesar de tudo, tenho saúde, tenho uma família incrível e amigos fantásticos, tenho um trabalho que adoro. Sou uma sortuda!