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Contos sem nó

As minhas histórias

Contos sem nó

As minhas histórias

27.06.20

Depressão


Lila

Na ultima semana muitos se questionaram o porquê do que aconteceu ao Pedro Lima. Sendo uma figura publica, ainda por cima simpático, bonito e passando sempre a imagem de homem de família (numerosa), cada um de nós sentiu que perdeu alguém conhecido. Para mim, o suicídio é um mistério. Nunca consegui decidir se é um acto de coragem ou de cobardia. Por muito que pense, não chego a nenhuma conclusão. Entendo apenas que terá de se chegar a um desespero tal, que não haja outra saída. Tomar a decisão, escolher o método e avançar, deve ser de uma coragem extrema. Mas não ficar cá pelos nossos, não encarar os problemas e as tristezas e deixar os que amamos em sofrimento, por nossa culpa, é de uma cobardia atroz. No caso do Pedro, faz ainda mais confusão. Ninguém notou uma depressão profunda. Trabalhou na véspera. Teve uma semana normal. Tinha cinco filhos, projectos para o futuro, trabalho, uma companheira. 

O que pensara a família? Deve ser impossível não sentir culpa, deve ser impossível não analisar todos os detalhes e pensar o que se poderia ter feito. 

Eu sou uma pessoa bastante positiva e que para todos estou sempre bem. Tenho momentos de profunda tristeza e de solidão e em alguns deles já pensei que a vida neste mundo não fazia sentido. Quem nunca? Nunca fiz terapia, sempre consegui gerir as minhas tristezas sozinha. Umas vezes melhor e mais depressa, outras pior e mais devagar. O perigo das pessoas positivas e alegres é que ninguém se preocupa em perguntar. Não dão sinais exteriores tão visíveis como as outras que passam o tempo a lamentar-se de tudo e de todos. A essas pessoas,as easy going, a ajuda chega tarde ou nunca chega. E com o tempo, as tristezas profundas dão lugar à depressão e poucos dão por isso.

Ele è´tão alegre, tão bonito, tão feliz. Esta tudo bem.

Dá que pensar. E nesta semana, tão dura, com tanto trabalho, não deixei nunca de pensar na dor do Pedro. Na coragem do Pedro. Na cobardia do Pedro. Na mulher que se sentirá falhada e viverá um trauma para a vida. Nos filhos, que nunca mais vão ser os mesmos meninos felizes de há uma semana atrás.

É impossível não ficar a pensar em tudo isso.

 

26.06.20

O meu filhote


Lila

Terminou hoje o 10ºano e o sexto grau de conservatório. Fartou-se de trabalhar, em condições estranhas, mas nunca se queixou. Adaptou-se as aulas online, aos milhentos trabalhos e avaliações, ao estudo de piano à distancia, à distancia dos amigos... Terminou hoje. E eu não posso esconder que sinto sempre um alivio, porque sofro com todos os stresses dele. Boas férias meu filhote. Mereces mesmo um verão em grande! Temos muito orgulho em ti, meu bonitão.

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22.06.20

21 de Junho


Lila

Inicio do verão, dia Internacional do yoga e ...aniversario do marido! Para festejar em grande, fomos passar o fim de semana, o primeiro depois do confinamento, ao nosso querido Vale Manso. Reservei o nosso quarto favorito e na sexta-feira, rumámos a Castelo de Bode. Foi um fim de semana cheio de aventuras, onde descobrimos paisagens maravilhosas, piscinas naturais com cascatas, passadiços. Fizemos paddle, demos uso à bóia gigante do JA em praias fluviais, houve muitas brincadeiras na piscina...enfim, um fim de semana e um aniversario à altura do menino dos anos.

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Piscina natural, Penedo Furado.

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Segredos de Vale Manso

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Cascatas em Penedo Furado.

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O JA a ser puxado pelo paddle... Praia Fluvial de Aldeia do Mato.

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O meu adolescente esta cada vez mais estiloso. E eu fiquei sem o meu chapéu de praia...

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Jantar de aniversario na Taverna Anticua, Tomar.

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18.06.20

Workaholic


Lila

Sabem quando se trabalha tanto que, chegado o serão, depois do jantar em família, e de se ter estado o dia inteiro num frenesim gigante, se decide não enviar nem um email mais e sentimos culpa por isso?

Estou nessa fase. 

Já passei por isto há uns anos, ainda o meu marido trabalhava em Portugal. Zangava-se tanto comigo que acabei, pouco a pouco, por terminar o trabalho ás 18h e não continuar ate ao dia seguinte. O meu marido trabalha na Alemanha e tem um ritmo de trabalho normal, muito distinto do meu.

O confinamento e especialmente o lançamento do kit, trouxeram-me de volta os dias de 15 e 16 horas de trabalho. O trabalho aos fins de semana.

Sei que esta errado e que não tarda nada viro a boneca e não há volta a dar. Há momentos no dia em que sinto que vou rebentar. Mas continuo. Hoje, durante a caminhada (a única coisa que continuo a fazer, para compensar a falta do yoga) recebi 3 chamadas telefónicas de trabalho. E ja passava da hora de termino do expediente, que no nosso caso, nem faz muito sentido porque não estamos no escritório. Serve apenas para nos orientarmos. Duas das chamadas foram do mesmo colega, e eu disse na primeira vez que estava  a fazer a minha caminhada. Voltou a ligar com outro tema, mesmo sabendo que já não estava em frente ao computador. 

Ontem e hoje fiz um curso sobre comunicação e estilos de trabalho (DISC). Gostei muito e quando recebi o relatório de 22 paginas sobre o meu estilo de comportamento  (Influencer a 93%), fiquei a pensar que há muitas coisas que tenho que aproveitar e fazer crescer, por ser essa a minha natureza  e outras tantas que tenho que mudar ou anular em mim.

Uma delas é esta sede de fazer tudo bem e depressa. Não querer que ninguém fique à minha espera Querer limpar listas e listas de tarefas. Em casa e no trabalho. 

Ou mudo depressa e começo a pensar mais em mim, ou vou já fazendo reserva no Júlio de Matos. Just in case.

 

 

17.06.20

Escritorio


Lila

Vou lá poucas vezes, agora. Há uns anos ia muito, passava lá bastante tempo e convivia muito com os colegas. Vamos sair do escritório actual e mudar para outro, mais pequeno. Temos actualmente apenas 3 pessoas em permanência no escritório de Lisboa. Não se justifica a imensidão de espaço que temos. Ontem fui lá arrumar as minhas tralhas da secretaria e de dois armários. Deitei quase tudo fora. Dossiers, manuais, artigos. Esta tudo disponível na internet. Aproveitei e limpei mais 3 armários, cheios de flyers.Os tempos mudaram tanto, agora já quase não se trabalha com papel, é tudo digital. Fiz apenas duas caixas para trazer comigo. Recordações, algum material promocional, cadernos de 17 anos de trabalho.

  Bateu-me uma saudade dos colegas que já partiram, fiquei triste, mesmo triste, por deixar um local onde já fui muito feliz. 

Mas os tempos mudaram muito e temos agora uma forma mais solitária e individual de trabalhar.

 

16.06.20

Longas são as noites


Lila

Que passo sem dormir. Quando consigo, apesar do cansaço, passar duas noites inteiras, seguidas, sem dormir, a coisa fica feia. Mal me aguento nas canetas e hoje vou ter um dia bastante puxado. Valha-me Nossa Senhora das Insónias!

14.06.20

Banho de lojas


Lila

Ontem, e na falta de tempo quente para ir à praia, fomos passear a Lisboa. E pela primeira vez em 3 meses, fui às compras. Comprei sandálias, comprei havaianas, comprei 2 vestidos e 2 tops. Até os meus homens trouxeram havaianas para eles e tudo.Não se pode dizer que seja a mesma coisa, a mascara sufoca-me faz-me calor, tira-me a visão e a audição. Mas pronto, foi o melhor que se conseguir arranjar. Num dia de Santo António sem manjericos, nem balões, nem ruas enfeitadas e gente a festejar, acabamos por petiscar, já bastante tarde no Patio do Avilez e continuar o passeio pelo Chiado. A noite, tivemos uma festa de aniversario de um amigo na casa dele e por algumas horas, ate conseguimos pensar que estava tudo normal. Sem beijos, nem abraços, mas minimamente normal.

 

08.06.20

O meu pai


Lila

Eu sou a filha que se parece com o pai. As outras duas, mais velha e mais nova, são iguais à minha mãe. Eu, não só me pareço fisicamente com ele, como tenho exactamente os mesmos traços de personalidade do meu pai. Somos tão parecidos que no dia me que nos zangámos à seria, ficamos 14 anos sem falar. E eu tenho muita pena de ter perdido esses anos.. Porque aconteceram muitas coisas nesse espaço de tempo que não voltam a acontecer e ele, a pessoa mais especial do mundo, não esteve comigo. O dia da minha formatura. O meu casamento. O nascimento do meu único filho. O baptizado. Sucessos profissionais que fui tendo. 

Já estou em paz com esse período, mas não foi fácil chegar ate aqui. Senti-me perdida muitas vezes, órfã de mãe e de pai, sem ter um colo para onde regressar. Faltou-me essa base na primeira fase da  construção da minha família e estou certa de que muitas fases menos boas que se foram sucedendo, se deveram a isso. Quem não esta completamente bem, não pode fazer que os outros estejam bem. Eu tentava colmatar essa falta com a minha família nuclear, com as minhas irmãs, mas escondia de mim própria a falta que a figura base da minha educação e do meu carácter, me fazia. Não conseguia ter equilibrio.

Há oito anos que voltei à fala com o meu pai. Por culpa dele, que deu o primeiro passo na minha direcção.

Abençoado passo.

O meu filho ganhou um avô, para além de mim, o meu marido ganhou também um pai. A nossa relação é fantástica e hoje em dia, ainda mais agora depois do terramoto por que passámos, fico orgulhosa por ser a filha a quem recorre sempre que precisa de desabafar, ou de contar algo importante. Falamos todos os dias, almoçamos uma vez por semana, vou lá vê-lo não sei quantas outras vezes. Tem sempre uma palavra meiga, um conselho acertado, um abraço apertado para todos (e um cestinho com pão, vegetais, morangos, etc).

A cada dia que passa tenho mais orgulho de ser a filha que se parece com ele.

E agradeço á minha mãe ter-nos deixado bem entregues. Umas ás outras e a ele.

O melhor pai do mundo e arredores.

 

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