O meu filho tem uma característica muito peculiar.
Quando tem fome, transforma-se noutra criança.
Resmunga, responde mal, só não dá coices porque apanharia uma palmada primeiro, mas é só o que falta.
Hoje estava a fazer o jantar e a coisa não andava, entre sopa e lasanha, nunca mais me despachava.
E via-o a petiscar e a morder coisas, á minha volta, a espreitar o fogão, numa cena típica de quem está com fome.
E eu não tomei atenção, porque uma peça de fruta tinah amenizado a coisa. Não me lembrei.
Quando se sentou à mesa, ninguem conseguia falar com ele.
Estava enraivecido, com uma tromba que parecia um elefante.
Até que a sopa do prato se foi e de repente, a meio do segundo prato, regressa o nosso JA, alegre e doce, a contar anedotas.
Quem nunca viu até pode achar que estou a exagerar, mas é exactamente assim, com este timing e com esta intensidade.
A glicose no sangue do meu filho faz uma enorme diferença naquele humor.
E o engraçado é que ele sempre foi assim, desde bebé.
O pior é que eu tenho a certeza de que isto lhe vai ficar para a vida.
Até já me estou a ver a dizer á mulher dele, no dia do casamento:
-Olha querida, quando ele começar a azedar, é fome. Abre-lhe a boca e enfia qualquer coisa lá para dentro, dá-lhe um balão de soro, enfim, alimenta-o, que ele volta...
Porque carga de água é que o meu filho não sai a mim no levantar da cama?
É que eu não gosto, odeio levantar-me cedo, mas todos os dias o meu despertador toca as sete da manhã e o meu rabo salta como que se tivesse uma mola, sem preguiças, sem resmungar, com cara alegre e siga para Bingo.
Só acordo mal disposta se é fim de semana e tenho que me levantar cedo.
Isso dá conta do meu humor. Fim de semana é para alapar o rabo na cama o mais possível, que eu já me levanto cedo todos os outros dias.
De resto e durante a semana, tem de ser e vamos lá.
Sem cara feia e a fazer tarefas pela fresquinha, para além da ginastica, que não pode faltar.
Há gente que preferia arrancar o fígado sem anestesia do que levantar-se de manhã para estender roupa ou pular para cima da elíptica, mas eu faço-o todos os dias e sem dramas.
Porque é que o raça do miúdo não saiu à maravilhosa da mãe dele, heim?