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Contos sem nó

As minhas histórias

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19.04.10

João e os piratas


Lila

Era já final da tarde, e o João brincava no seu quarto, com um barco de piratas.

Olhava fascinado para cada vela do navio, de um branco imaculado, para o cofre do tesouro, repleto de jóias que pareciam ouro, para a âncora que parecia verdadeira, e para os piratas vestidos a rigor e com ar severo.

Imaginava aventuras em alto mar, no dia em que se tornasse um pirata a sério.

Ensaiava lutas com espadas de plástico, fingia comandar o navio e dirigir os seus marujos.

O que daria para se tranformar num deles, e cruzar os oceanos em busca de tesouros!

Seria um pirata terrivel, envergando a sua espada e todos o conheceriam como o verdadeiro terror dos mares.

Fixou de novo o seu olhar no navio de piratas, que recebera no aniversário e do qual não se separava desde então.

As velas pareciam-lhe agora agitadas, como se uma brisa estranha entrasse pela janela do quarto.

De repente, sentiu uns salpicos de água na cara.

"Água salgada?"

Abriu bem os olhos e, nem queria acreditar, estava dentro de um enorme navio, todo feito de madeira escura, com enormes velas que se agitavam com o vento vindo do mar!

Levantou-se devagarinho, tentando que ninguêm o visse no meio da confusão instalada a bordo.  O navio cruzava aguás profundas e viajava demasiado rápido, empurrando objectos de um lado para o outro.

Os piratas apareciam de todos os lados.

E eram igualzinhos ás personagens dos livros. Homens feios, de pala no olho e lenço na cabeça, alguns com argolas de ouro nas orelhas e uma perna de pau.

Os piratas são heróis sem pátria. Algumas pessoas chamam-lhes ladrões do mar, mas João prefere vê-los apenas como aventureiros, embora sabendo que são muitas vezes cruéis malfeitores.  Capturam e roubam navios que transportam mercadorias, ouro ou qualquer outra riqueza.

Desde os tempos antigos,os piratas atacam em todos os oceanos do mundo. São homens rudes, adoram beber e lutar. Os seus navios são conhecidos mesmo quando vistos ao longe.

João sabia qual o simbolo que identificava estes navios. No mastro mais alto, agitava-se um pedaço de pano inconfundível: a bandeira negra com uma caveira e dois ossos cruzados.

Tremeu de emoção e nesse momento decidiu explorar o barco e entrar na aventura .

Ao longe, reconheceu o famoso Barba Negra. Era assim chamado porque possuía uma enorme barba e cabelo escuro que lhe chegava a meio das costas.

Este pirata valente assim como todos os seus homens, tornaram-se os piratas mais temidos do oceano.

Eram conhecidos porque cercavam e roubavam os tesouros dos navios, e afundavam-nos de seguida.

João aproximou-se de Barba Negra, para ter a certeza de que era real, mas nesse momento ouviu-se um enorme estrondo. O navio chocara contra outro barco e todos os piratas saltavam para dentro dele, prontos para realizar o assalto.

João seguiu-os até ao outro barco.

Gerou-se uma batalha, uns na tentativa de ganhar o tesouro e os outros na tentativa de defende-lo a todo o custo.

Ouvia-se o tilintar das espadas, os tiros das pistola e os gritos de luta dos piratas.

João estava realmente no meio de uma grande aventura!

De repente, uma enorme tempestada abateu-se sobre o navio. O céu estava completamente negro.

Ondas gigantes e ventos fortes faziam o barco ficar em perigo e era tempo de abandonar a luta, antes que o navio afundasse.

Içaram-se as velas e os piratas seguiram outro rumo, abandonando o navio saqueado.

A noite estava a chegar e o céu encheu-se de estrelas brilhantes.

Barba Negra estendeu então um enorme mapa em cima de uma mesa e começou a apontar novas rotas.

João observava curioso os paises por onde já tinham passado, cruzando os mares.

O oceano está longe de ser um lugar de fácil navegação. Está repleto de portos hostis, cidades perigosas, ilhas misteriosas, monstros marinhos capazes de afundar uma embarcação inteira, piratas e feiticeiros misteriosos.

Os piratas partem para outra árdua missão, saquear barcos cheio de ouro, enfrentar exércitos, lutar contra criaturas do mar e desafiar outros piratas em batalhas.

Mas agora era tempo de festejar o sucesso do assalto, e nas festas de piratas não podem faltar comida, bebidas e música para todos poderem cantar.

João via-se num mundo que só tinha vivido nas histórias que o pai lhe contava na hora de ir para a cama. E observava, de olhos bem abertos, tudo o que o rodeava.

Os piratas não tinham maneiras, comiam sem talheres, bebiam das garrafas e conversavam com a boca cheia de comida. Tudo ao contrário do que João havia aprendido!

João começava a agora a dançar, entusiasmado pelo som das músicas que os piratas tocavam.

No ombro do Barba Negra, um papagaio gritava "Pirata novo a bordo, a bordo!".

E todos olharam para o João, pela primeira vez.

"Quem és tu?"

"Que roupas estranhas, que sapatos esquisitos!" disseram os piratas.

"Onde está o teu lenço e a tua perna de pau?"

João sentiu-se intimidado e confuso. Não sabia como explicar o facto de ter entrado na história dos seus livros .

Ainda há pouco brincava no seu quarto e agora, sem conseguir perceber , pertencia a esta aventura nos mares.

Começou a recuar, com pequenos passos, balbuciando palavras, enquanto os piratas se aproximavam.

E de tanto recuar, bateu com a cabeça numa trave, coçou a cabeça para atenuar a dor e ...acordou.

Tudo não passara de um sonho e João nunca tinha saído do seu quarto, onde brincava com o barco de piratas, agora caído sobre o seu colo.

 

 

 

 

História lida hoje no infantário, no âmbito da semana da leitura.

E escrita no fim de semana.